A minha conversa com os EGN começa no Processo. ‘Good process but bad performance’ disse-me o Apache – ele é o Strategy Coach da equipa e fala-me de um problema bastante comum em qualquer equipa: o transporte daquilo que é o processo que se pretende desenvolver com o treino, para o jogo competitivo. Os EGN começavam o Summer Split com aquilo que eles próprios me descreveram como um Reality Check. E, de fora, com olhos de fã, era inerente ver que a equipa tinha encontrado problemas naqueles 2 jogos contra GeekCase e FTW. Mas o conceito de um processo é interessante porque um reality check enquadrado nesta idea não é um problema por si, é apenas um check point: um degrau na escada de evolução.
Quando entramos no tema que envolvia os imports – um termo que não é assim muito bem conotado na nossa scene – na minha cabeça comecei a perceber que processo é uma palavra que assenta particularmente bem aos EGN. Se pensarmos no motor de um relógio analógico ele também tem o seu processo: Precisa das suas rodas dentadas aprimoradas à perfeição para funcionar. A montagem dos próprios relógios analógicos também é um processo, pois às vezes são precisas peças novas e diferentes. E neste caso as novas peças deram aos EGN um motor fantástico de vitórias: 12. Números de campeões? Ainda não. Nem muitas pessoas fora da equipa pensariam que sim, afinal de contas os EGN estão afastados das finais da LPLOL desde 2015. Mas o feeling este Split é diferente.
O processo funcionava, mas era preciso mais. E com novas necessidades vieram novos check points. Quando perguntei pelas derrotas na parte final do split confesso que estava à espera de sentir algum desconforto. Mas não existe desconforto numa máquina ou numa linha de montagem – existe só a vontade e o suor da indústria. E não houve desconforto. Tanto o Mantorras (veterano capitão dos EGN) como o Orthran (Head Coach da equipa) alinham-se perfeitamente com a filosofia: foram check points no processo de improve de uma equipa que, se quer chegar a novos patamares, tem de necessariamente sair da sua zona de conforto.
‘Os Hexagone vão ganhar aos K1ck. O Nuokii vai dar 1v9’
O Worst é provavelmente o membro mais esplendoroso desta equipa das abelhas. Eu já o conhecia e, como tal, não me surpreendeu que, ao falarmos dos adversários nesta primeira ronda da Gauntlet dos Playoffs, a sua previsão fosse sair contrária à do resto da equipa. Já conheço o Worst há bastantes anos – antes da LPLOL existir – e apesar de reconhecer que ele pode ter os seus momentos mais abrasivos, sempre foi para mim, das personalidades mais engraçadas da scene. Mas mesmo ele nesta conversa falava da importância da estrutura e de uma certa indiferença em relação a tudo o que não seja a evolução da equipa: ‘Não importa contra quem vou jogar’. Em relação a K1CK e FTW o discurso continua mecanizado: ‘Hard games but we can do it’. São as duas equipas que, de uma maneira geral, dominam a presença nas fases finais da LPLOL. E se cinco anos de domínio poderiam impressionar qualquer um, a verdade é que a união em torno desta inevitabilidade - que é a evolução de uma equipa que tenha uma boa estrutura, um bom processo e uma atitude séria, independentemente dos “reality checks” – é um imunizador particularmente bom.
Ao refletir sobre estes minutos que passei com a equipa encontro-me a pensar na simbologia dos EGN: Uma Abelha. Eu confesso que usei várias vezes esta “alcunha” ao longo do Split de uma maneira algo displicente e preguiçosa (somente para não estar sempre a dizer EGN) e sem nunca fazer bem a associação que faço agora. Processo e Estrutura. Palavras que são fáceis de associar a colmeias. A seriedade, cada um ter o seu papel igualmente importante, o objetivo de melhorar e expandir. Ao longo da conversa falamos de temas diferentes: Desde como podem as equipas em Portugal melhorar, até a qual o segredo para integrar imports com tanto sucesso, e as respostas – apercebo-me eu agora – foram sempre pistas para esta identidade tão forte na equipa os EGN: A identidade de uma verdadeira colmeia – bem focada e estruturada à volta do seu objetivo.
Este é o primeiro de quatro artigos que vou lançar nesta época de Playoffs. Pedi aos nossos finalistas que tivessem uma conversa comigo sobre a sua viagem por este Summer Split de surpresas para depois poder escrever as minhas impressões sobre eles. Eu espero que consiga dar ao leitor uma boa janela para se poder ver, com melhor detalhe, o que às vezes a câmara não transmite – e alguns pormenores para os quais 1080p não chegam.