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OLO e Boavista apostam na formação e desenvolvimento dos seus jogadores
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Raul “OLO” Ralha, começou a treinar equipas de esports em 2006, e é treinador de League of Legends desde 2015, onde comandou a equipa dos uPro, que terminou a prova em 4º lugar. Após sair dos uPro, que acabaram por não conseguir alcançar os playoffs em 2016, e onde desceram até o Relegations este ano, Olo voltou ao palco principal do League of Legends à frente do Boavista, sendo o primeiro treinador a comandar no Rift, um clube de futebol.

Olá OLO! Podes falarnos um pouco sobre a história deste projeto do Boavista FC?

Este grupo de trabalho começou a ser preparado em Julho com a ideia de ter um plantel com 10 jogadores e lançamento de vários jogadores. Acabou por ficar dividido em duas equipas, e reforçou-se para a Moche LPLOL como Boavista FC, numa lógica de estabilidade e evolução. Desde o início, a equipa foi feita e gerida por uma equipa técnica que procurou jogadores com tempo e vontade de investimento na evolução individual e coletiva. O trabalho com uma equipa técnica é o formato que acredito ser o mais eficaz para exponenciar e trabalhar a evolução de jogadores e treinadores.

Com que visão é que o Clube encara o mercado atual dos esports e o seu crescimento?

Eu não sou a pessoa indicada para falar sobre este assunto, mas de qualquer forma, parece-me que é cedo para falar de mercado de esports em Portugal. Do meu ponto de vista ele praticamente não existe, pois o que idealizo é uma realidade onde haja mais jogadores com compromisso e qualidade, mais clubes e estruturas desportivas e mais condições de treino e competição.

De que tipo de estruturas de apoio dispõe o Boavista FC para dar apoio a estes jovens talentos do League of Legends?

Nós temos muito a aprender com uma estrutura desportiva com a história e a dimensão do Boavista. Está completamente em sintonia com a minha forma de ver o jogo que é colado ao desporto sobretudo em dois aspectos: equipa técnica composta por várias pessoas e plantel amplo.
Acredito que o Boavista poderá ser uma referência nos seus modelos de treino e que poderá num futuro próximo lançar vários jogadores para a comunidade competitiva, de qualquer forma isso não se esgota aí. Tal como no desporto, a competição é um elemento importante na formação de atletas, mas terá que haver mais espaço para outras questões nomeadamente a compatibilidade do jogo com as responsabilidades quer de estudo quer de trabalho e a complementaridade da atividade física e a atividade mental. O Boavista, acima de tudo, demonstra uma grande visão nesta aposta onde, não perdendo o seu ADN que é visível na história de mais de 100 anos nas diversas modalidades, aposta no futuro com uma abertura invulgar.

Como é ser treinador de League of Legends do Boavista FC?

Apesar de eu não treinar sozinho e estar à frente de uma equipa técnica composta por cinco pessoas, posso falar da minha visão sobre os objetivos de treino para esta equipa e qual a minha opinião sobre o meu estilo enquanto treinador.
O nosso projeto, enquanto equipa técnica, visa implementar uma boa prática de treino individual e coletiva. Para isso o grande desafio em Portugal é ensinar jogadores a gerirem o seu tempo no jogo. Há objetivos individuais todas as semanas e vai sendo montado um plano de treino coletivo com objetivos mais demorados. Não procurámos jogadores experientes nem jogadores “feitos” e acreditamos que podemos ser uma boa “escola” de atletas que pretendam evoluir no jogo e ter uma oportunidade no competitivo em Portugal.
Enquanto treinador, eu enquadro-me no treinador que procura a evolução dos jogadores sempre numa lógica de serem mais completos e perceberem melhor o jogo. Apesar de adorar o lado competitivo e de detestar jogar a feijões, sou um treinador que procura desmontar o jogo com os jogadores e vibra e se sente concretizado quando os jogadores atingem outros patamares e sobretudo outra maturidade. Apesar da minha experiencia nos esports e de já ter sido treinador noutros jogos, não sou uma pessoa muito completa no conhecimento do League of Legends e dou muito valor ao trabalho de equipa e à troca de opiniões entre equipa técnica. Sou apologista que não existem receitas únicas e que o nosso trabalho enquanto equipa técnica é perceber os melhores percursos para cada jogador e leva-los aos mesmos. Adoro a gestão da competição e a exigência de montar planos de treino tendo em conta o tempo e a forma da equipa.

O Boavista começou como sendo uma das equipas mais criticadas deste 2º Split, mas em Picoas, a formação preta e branca conquistou o público com o Brand ADC do Grande Biceps. Com um empate contra os E9K e duas derrotas frente aos DOXA e Y, como se encontra a moral desta jovem equipa?

Não me apercebi que a equipa estivesse a ser criticada, senti sim uma postura típica na comunidade de League of Legends nacional, que quando não conhece acha que não tem valor. Os jogos são apenas uma pequena parte do trabalho que uma equipa faz e apesar de ser muitas vezes a mais importante, não se deve reduzir uma equipa a isso. A equipa gostava de ter ganho os dois jogos contra os E9K e pelo menos ter ganho um jogo aos WHY. No entanto, em 4 ou 6 pontos desejados apenas fizemos 1. Os resultados foram justos, mas obviamente que atrapalham a confiança e a motivação dos jogadores.

O Brand ADC não foi a única pocket pick desta equipa, que já mostrou que claramente gosta de surpreender com picks pouco ortodoxas. Este estilo é uma reflexão do estilo da equipa, ou é uma tentativa de apanhar de surpresa adversários considerados superiores?

Não concordo que o estilo de uma equipa deva ser composta de picks pouco ortodoxas, jogar fora da meta é negar os champions mais fortes. Na realidade, elas são viáveis em algumas situações mas revelam sobretudo algumas opções (quase todas de risco) para determinados jogos. Muitas vezes os jogadores precisam de tempo para ganharem confiança e maior conforto em champions novos ou novas funções e quando se trabalha com uma equipa que arranca a meio da época todo o tempo é pouco para trabalhar a identidade e a sinergia de uma equipa.
Nós achamos que temos jogadores já com alguma identidade e temos trabalhado para que nasça uma identidade coletiva mais forte e atual em nome da equipa. Podíamos ter apostado num único estilo e se calhar até estaríamos a ter melhores resultados, mas de um ponto de vista de treino e evolução era fundamental passar pelas várias exigências ao longo da meta e obrigar a que houvesse uma evolução individual.
Costuma-se dizer que quem não tem cão caça com gato e prefiro ver estas abordagens como possíveis num cenário português e num jogo onde acredito haver espaço para alguma criatividade.

O Akro tem sido um dos jogadores que mais surpreendeu nesta equipa. Como está a ser a adaptação do jogador ao competitivo, e que margem de evolução pensas que ele tem?

O Akro foi uma aposta da equipa técnica em Julho e um dos primeiros jogadores a ser fechado. É um dos jogadores que tem treinado de forma mais regular e por isso tem conseguido esta evolução. Não é ainda um jogador regular nem um jogador que possa jogar com a mesma segurança que outros top laners nacionais, mas é um jogador que se continuar a treinar desta forma poderá ser um jogador forte e consistente. Há um elemento curioso em relação ao Akro, que foi o facto de no inicio ele não ter espaço provavelmente nem nas equipas da 2ª divisão da Moche LPLOL e ao fim de três jornadas ter surpreendido muita gente. Acho que isto diz mais da forma errada como muitas vezes a comunidade vê os jogadores, do que propriamente a forma certa como se calhar a nossa equipa técnica apostou no Akro. De qualquer forma, a evolução de um jogador faz-se de acompanhamento de treino, oportunidade competitiva, mas sobretudo do empenho e da persistência do próprio, e esse mérito é dele.

Neste Boavista vemos um regresso de um nome conhecido da comunidade, o Hackali, mas numa forma mais forte e madura. Como foi treinar com este jogador e qual o seu impacto na equipa?

O Hackali sempre foi um bom mid laner com uma boa técnica individual que não teve a sorte de trabalhar em equipas mais regulares. Qualquer jogador precisa de estabilidade para fazer um bom percurso e nem sempre isso é fácil em Portugal. O jogo não é tudo, e hoje o Hackali é já um estudante universitário que também foi aprendendo uma melhor forma de estar no League of Legends. Não é fácil treinar jogadores que além de terem argumentos fortes no jogo trazem alguns erros de maus hábitos ou de falta de forma, de qualquer forma a nossa estrutura é completamente firme no que deve ser o treino regular individual e o Hackali tem mostrado uma vontade grande em melhorar, e conta já com várias semanas de treino sério. Em Portugal há muitas vezes o hábito de se olhar para os mid laners como as estrelas das equipas e isso atrapalha alguns jogadores. Não concordo nada com a ideia de que o League of Legends é um jogo de jogadores que resolvem. Para mim, é sobretudo um jogo de equipas e em que muitas vezes os jogadores comprometem e sinceramente acho que a capacidade do Hackali sair do jogador que gostava de dar espetáculo e tornar-se no jogador polivalente disponível para as necessidades da equipa, foi o que mais me surpreendeu positivamente.

E o que achaste da performance das outras equipas em prova até agora?

Sinceramente não tenho tido muita margem para observar as performances das outras equipas. Sendo que hoje na Moche LPLOL já se vê muitas equipas com treinadores e analistas, nem sempre é muito justo as análises que se fazem em torno dos jogos vistos. Analisando de forma superficial o que as equipas já mostraram e o que conheço dos jogadores diria que os k1ck continuam a ser a equipa mais forte sem dúvida. Os DOXA são a equipa que me parece treinar melhor e nota-se uma evolução geral dos jogadores e sobretudo um controlo na jungle e na macro da equipa. Os WHY são a equipa revelação deste 2º Split, mas na realidade a surpresa para mim foi não terem sido a revelação no Split anterior. Os FTW e os EGN têm passado por alguma instabilidade no line up e penso que se está ainda a notar isso. De qualquer forma acredito que os FTW continuarão no top 4. Parece-me que a curva de evolução dos XD abrandou ligeiramente, e que provavelmente ficarão de fora do 4 por isso, apesar de continuarem a ser uma equipa regular. Os E9K são uma equipa aguerrida e que vai fazer por não ficar nos últimos lugares. Acredito que o investimento e a intensidade de treino que temos colocado pode dar resultados.

Com jogos frente aos K1CK, FTW, os jogos contra os EGN e os XD serão sem dúvida os mais importantes para o Boavista alcançar a manutenção. O que esperas desses jogos?

Na fase em que se encontra a equipa, nós temos que estar muito mais focados em nós do que nos adversários. A verdade é que continuamos a cometer erros que nos custam vantagens e jogos. É natural isso acontecer numa equipa com menos tempo de treino e menos experiência, e o nosso desafio principal é exatamente conseguirmos não cometer tantos erros. O Boavista participa na LPLOL com o objetivo de mostrar evolução e acabar o Split a jogar melhor do que como começou. Estas 4 equipas tem a obrigação de ganhar ao Boavista pela sua experiencia e pela sua qualidade, logo não posso aceitar que tenhamos a responsabilidade de ganhar.
Espero um Boavista a jogar melhor e a tentar ganhar todos os jogos.

Obrigado OLO! Antes de terminarmos queres deixar alguma mensagem para os fãs do Boavista?

Obrigado pela oportunidade. É um gosto muito grande para mim estar no arranque dos esports do Boavista, e sem dúvida que os Boavisteiros verão um projeto com garra sem estar à espera de facilidades, e que nos bons e maus momentos vai saber honrar a camisola.

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