Gonçalo "Crusher" Brandão é um dos poucos jogadores competitivos de LoL da scene portuguesa a fazer a transição de jogador para treinador até hoje. Conhecemo-lo em 2015, com a estreia da LPLOL, a jogar pelos White Dragons e nunca foi transferido. A equipa que representou passou por algumas mudanças de imagem, de WD para K1ck White e depois para Team Alientech. Nesta última, passou do seu papel de jungler para treinador. Treinou ainda a sua equipa quando esta já se encontrava novamente nos K1ck, mas Crusher encontra-se atualmente como treinador dos Doxa Gaming.
Fomos conversar com o ex-jogador para o conhecermos melhor e percebermos não só o que o levou a mudar de função, como também saber um pouco sobre o papel de um treinador e do quanto este pode afetar a performance de uma equipa.
Crusher relembrou um pouco o passado falando da equipa onde esteve dois anos consecutivos e do quão difícil foi no início, quando só colecionavam derrota atrás de derrota: "A maioria das pessoas só se deve lembrar dos White Dragons (ou outro nome dado posteriormente) como Top 3 ou 2, dependendo dos torneios e situações, mas as previsões na altura diziam que os WD seriam uma equipa para ficar no fim da tabela." Contudo, devido à grande vontade de ganhar e evoluir foram conseguindo alcançar cada vez mais e apesar das dificuldades iniciais e da falta de experiência no competitivo, conseguiram subir na tabela da LPLOL. "Uma das coisas que a LPLOL trouxe de bom foi o passar a ficar mais comum as equipas manterem-se juntas e a trabalharem por objetivos, em vez de participarem em torneios e os jogadores separarem-se após os mesmos."
Relativamente aos comentários atuais sobre a prestação das equipas e à falta de qualidade das mesmas, mas aumento de competividade devido à proximidade de skill entre elas, Crusher afirmou que não se poderiam esperar grandes resultados a nível competitivo, uma vez que a maioria que participa na LPLOL ainda são uma parte que joga de forma muito casual. "Em Portugal só há algumas equipas que treinam a sério e o máximo diariamente."
No início deste ano, Crusher teve de tomar uma decisão difícil, quando a equipa em que jogava como jungler contratou Oleg "ReAt1vo" Ralchenko para a sua posição. O ex-jogador referiu que já tinha pensado na hipótese de ser treinador, mas não esperrava que a mudança fosse tão cedo. Teve algumas propostas interessantes ainda para o papel jogador, mas acabou por decidir mudar. "Não foi fácil, tive de pensar bastante e conversar para decidir, porque na minha cabeça, se me tornasse treinador não voltaria atrás para voltar a jogar competitivamente.” Apesar de ser uma função que só ponderaria assumir mais tarde, como era para ajudar a equipa onde esteve tanto tempo, queria contribuir para alcançarem os seus objetivos e, após conversar com o seu treinador e amigo António “Fintinhas” Lisboa e com a equipa, decidiu desempenhar o papel que o faria abandonar o Rift. "Se não houvesse vontade da parte deles para eu os ajudar a treinar, provavelmente iria continuar a jogar."
Numa entrevista anterior ao ReAt1vo, o jogador mencionou que o facto de o Crusher ter sido anteriormente jungler o ajudava bastante, pois sentia-se facilmente entendido. O treinador comentou que há mais facilidade para quem já jogou competitivamente de entender o que os jogadores pensam quando estão em jogo, as suas frustrações e de perceber o que precisam, já que muitas vezes não se conseguem expressar da melhor forma. Mencionou também, que no caso concreto do ReAt1vo, o facto de ter sido jungler o ajudou a perceber os pontos fortes do jogador e a encontrar a melhor estratégia de equipa para aproveitar as qualidades do jogador.
Quando perguntámos sobre as principais funções de um treinador, Crusher referiu que existem duas áreas muito importantes que são abrangidas: estratégia e lidar com pessoas. A primeira já é do conhecimento comum e engloba a visualização de VODs, Solo Queue, estar atento à meta e saber reconhecer as necessidades dos jogadores para atingirem os objetivos: "Tens de saber avaliar os teus jogadores, reparar no que eles são bons e escolher champions que lhes permitam serem os melhores no seu tipo de jogo." Quanto à última área, o treinador referiu que apesar de ser uma das mais importantes, não lhe é dada a atenção necessária. É a mais complexa, mas permite fazer 5 jogadores tornarem-se numa equipa ao criar um bom espírito de grupo e fazê-los focarem-se todos no mesmo objetivo, apesar das diferentes personalidades e maneiras de ver o jogo. Salientou ainda a importância desta parte e que para evoluir é necessário haver uma base sobre a qual as pessoas se respeitem mutuamente e oiçam o que o treinador tem para dizer. "Em Portugal os treinadores ainda têm muito pouco poder. Os jogadores muitas vezes não se apercebem disso, mas as organizações não dão muito poder aos treinadores."
Relativamente à importância de um treinador numa equipa, Crusher diz que depende se a mesma precisa de um treinador ou o acha útil. “À luz do que disse anteriormente, se não quiserem ouvir o treinador não há muito que o mesmo possa fazer. As necessidades dependem de equipa para equipa e enquanto umas podem precisar de ajuda na parte estratégica, outras podem precisar de uma pessoa que una os jogadores e os faça lutar por um objetivo comum.”
No decorrer da conversa sobre a função de treinador foi inevítável perguntarmos sobre o porquê da saída dos K1ck, uma vez que foi por essa mesma equipa que tomou a grande decisão, que mudou a sua carreira nos eSports. Crusher desmistificou a sua saída, sobre a qual pouca ou nenhuma informação foi divulgada, referindo que a mesma se deveu aos maus resultados da equipa e que em parte já não estava a conseguir fazer o seu trabalho, pois tornara-se difícil ser ouvido e como referiu os treinadores são pessoas com pouco poder de decisão. "A equipa precisava de uma mudança e entenderam que seria eu. Eu não saí dos K1ck fui removido, mas eu respeito a decisão."
Mesmo dando por encerrado o seu papel nos K1ck, o seu percurso como treinador estava apenas no início. O ex-jungler disse que procurou somente propostas para treinador e que os DOXA eram a única equipa em Portugal que estaria disposto a treinar. "Os Doxa são um grupo que me relembra um pouco do início dos White Dragons."
Crusher está agora numa nova casa, onde refere haver muita vontade de ganhar e aprender, realçando o esforço de todos, que mesmo com escola ou faculdade aproveitam todos os tempos livres para se dedicarem ao jogo "Sinto que os jogadores realmente se esforçam […] Há uma grande diferença entre dizer que se quer ganhar e realmente trabalhar para cumprir esse objetivo." Mencionou ainda que há melhorias a fazer: " Ainda somos uma equipa que dá demasiadas kills. […] temos de passar a ser uma equipa mais esfomeada por objetivos e a lutar somente quando faz sentido."
Quando questionado sobre as suas funções de treinador e se seria somente uma ocupação de passa-tempo, afirmou que se dedica a 100%, como os seus jogadores, e procurava melhorar em diversas áreas usando diferentes métodos para se tornar num treinador melhor.
No que toca explicar o seu trabalho a amigos e familiares disse que com os amigos era bastante fácil, pois eram todos ligados de alguma maneira aos jogos. Já à famíla, apesar de entenderem com facilidade as funções de um treinador no geral, não conseguiam ainda perceber bem o mundo dos eSports e o que nos atrai tanto no mesmo. O treinador explicou-nos que tenta usar sempre a analogia do futebol, uma vez que são ambos um desporto.
Tentámos entender o que sentia um treinador ao ver a sua equipa a jogar e Crusher disse que sofre bastante ao ver os jogos da sua equipa: "Foi algo que me surpreendeu bastante, não estava a espera de ficar nervoso, mas é realmente algo muito difícil para mim, principalmente os jogos importantes. Ficas com uma sensação de impotência horrível, porque o teu trabalho acaba no momento que eles entram no Rift."
O crusher terminou esta conversa com um agradecimento a todo o público que sempre o apoiou e um apelo para se interessarem mais pelos jogadores e pelo jogo português. “Cabe ao público ver mais os jogos e dar outra dimensão à competição portuguesa.”
Não percam a oportunidade de ver os Doxa ao vivo nos dias 8 e 9 de julho, nos Playoffs do 1º Split, a decorrerem no ISMAI Legends 2017! Podem acompanhar todas as novidades dos DOXA na sua página de Facebook. E acompanhar o treinador através do Twitter ou Facebook.