Há algum tempo foram divulgadas notícias a respeito de 7 caras conhecidas da scene portuguesa de League of Legends e também da LPLOL, que romperam as fronteiras lusitanas e agora levarão a bandeira portuguesa para as suas novas equipas. Face a estes acontecimentos, convidámos o David “Pechoshev” Peitinho, uma cara também bastante conhecida da comunidade e ex-jogador da LPLOL, para nos falar um pouco deste assunto e sobre o que estas oportunidades poderão significar para estes jogadores, treinador e para a scene.
Olá Pecho, obrigado pela disponibilidade para te reunires connosco. Em primeiro lugar, gostaríamos de saber qual a tua opinião acerca dos recentes acontecimentos e da saída de 6 jogadores e um treinador para equipas estrangeiras? Achas que eles já mereciam esta oportunidade pela qualidade de trabalho que têm demonstrado?
Acho que sim. Começando pelos jogadores dos k1ck, admito que entendo o ponto de vista dos mesmos, já que aqui em Portugal estão mais limitados e a competição direta para eles acaba por ser muito contra a mesma equipa, os Alientech. Tendo em conta a competição reduzida, acho que fizeram bem em tentar conseguir triunfar lá fora, não só pelo reconhecimento que isso lhes dá, mas também por serem oportunidades de maior valor monetário.
No caso do Joo, não sei como recebeu a proposta, mas sei que ele nos For The Win trabalhava bastante. Sempre tive a noção de que era um jogador muito ativo na aprendizagem individual, assim como na aprendizagem em equipa. Conheço o Joo desde os tempos em que ele jogava AD Carry e não estava à espera que ele se destacasse como suporte, mas fico contente por isso ter acontecido e por ele ter aproveitado todas as oportunidades que lhe surgiram.
Para finalizar, falando do Guilhoto, ele tem demonstrado o seu valor como treinador. Acredito que merecia esta oportunidade e espero que consiga atingir os seus objetivos.
Que vantagens poderão surgir para estes jogadores e treinador com estas oportunidades?
Ambos vão estar num meio mais competitivo, em vez de estarem só focados em Portugal. Apesar de ter muito respeito pelos jogadores da comunidade portuguesa, acho que estamos um bocado limitados em termos de skill e qualquer tipo de experiência que eles ganhem lá fora vai ser sempre uma mais-valia, já que vão estar em competições mais exigentes e ao mesmo tempo vão evoluir. Caso um dia voltem a Portugal, vão definitivamente trazer um novo nível de jogo às equipas e ao mesmo tempo mostrar ao resto do mundo que os portugueses também têm o seu valor.
Que tipo de benefícios estes acontecimentos poderão trazer para a scene portuguesa no geral?
Se eles tiverem sucesso, prevejo mais jogadores a serem contratados para fora e talvez algumas empresas invistam mais em Portugal. Basicamente, as atenções iriam virar-se mais para Portugal e para os jogadores portugueses.
Elaborando um pouco mais, quatro dos jogadores em questão (Xico, Truklax, LeChase e Rhuckz) irão competir em algumas das melhores equipas da LCS e Challenger Series turcas. Na tua opinião, estão aptos para enfrentar este desafio?
Não tenho visto a LCS, nem a Challenger Series turcas e não tenho muita noção do nível de jogo deles, mas penso que eles fizeram bem em arriscar. Irem para competições estrangeiras vai ajudá-los a ganharem mais skill. Vão estar num meio diferente, mais competitivo, o que também os pode ajudar a crescerem como pessoas. Mesmo que até não dê em nada, acabam sempre por melhorar individualmente e também recebem sempre alguma compensação por isso.
O treinador Guilhoto e os jogadores Joo e Minitroupax rumaram a Espanha para se juntarem ao plantel dos Giants Only The Brave da divisão de honra da Liga Orange. Que dificuldades achas que terão de superar?
Talvez a barreira linguística, apesar de achar que não é assim um problema tão grande, já que são duas linguagens que se entendem mutuamente com um pouco de esforço. Em relação à liga espanhola, acho que vai ser mais renhida para eles e terão que se esforçar muito mais do que aqui em Portugal. Na minha opinião, será uma experiência tão boa quanto a dos K1ck, mas um pouco mais facilitada.
A maior parte destes elementos faziam parte do plantel dos K1ck eSports, embora a saída do top laner Truklax seja apenas temporária, não achas que as saídas de todos os restantes membros e respetivo treinador, representam um grande desfalque para a organização?
Se os K1ck quisessem apostar numa equipa para a liga portuguesa tinham duas opções: trazerem uma equipa já feita, por exemplo indo buscar a equipa dos Alientech, o que eu duvido; ou apostarem em jogadores individualmente. Neste momento, penso que todas as equipas que têm os jogadores de topo estão fechadas, logo eles poderiam apostar numa equipa com jogadores de second tier apenas. Tecnicamente, acho que é muito difícil apostarem numa liga portuguesa este ano. Creio que o sonho dos K1ck de voltarem a ficar em primeiro vai depender bastante dos jogadores dos Alientech.
Vimos estes elementos participarem e evoluírem ao longo das edições anteriores da LPLOL! Acreditas que a LPLOL teve um papel no seu desenvolvimento e projeção para o exterior?
Sim. A LPLOL transmitiu uma boa competição entre as equipas portuguesas, o que motivou as equipas a treinarem entre si. Os jogadores foram dar-se a conhecer lá fora e isso provavelmente também motivou a que tenham existido tantas internacionalizações nos últimos meses.
Qual a importância de competições como a LPLOL para o crescimento e reconhecimento da scene portuguesa?
Penso que o fator mais importante é manter as equipas juntas, portanto havendo uma liga de competição disponível, que dure um determinado tempo, isso acaba por forçar as equipas a ficarem juntas, o que é muito importante, já que a maior parte das equipas acaba por não ter um objetivo que as prenda.
Se pudesses fazer uma sugestão para que algo fosse feito para melhorar a projeção da scene portuguesa qual seria?
Talvez a realização de competições mistas com equipas estrangeiras, convidar as mesmas a virem cá, ou mesmo parcerias com ligas como a espanhola e a turca. A participação de equipas portuguesas no estrangeiro também ajudaria, como por exemplo irem a uma Dreamhack, Insomnia, etc. Para concluir, acho que se uma equipa portuguesa passasse para a Challenger Series também iria ajudar bastante.
Estando na presença de um meme vivo e de alguém que tem visto os eSports crescerem em Portugal, acreditas que foi importante a chegada dos eSports à televisão no ano de 2016? Que tipo de impacto causou este tipo de exposição? Tens algo de mais negativo a apontar, ou que poderia ter sido melhor?
A apresentação dos eSports a uma geração mais velha foi bastante importante, visto que maioritariamente quem conhece os eSports são as pessoas mais jovens e esta exposição pode ter ajudado a que a geração mais velha se apercebesse da mudança e compreendesse minimamente os novos hábitos dos jovens e o que são então os eSports.
Quanto a algo de negativo: talvez o horário. Penso que poderia ter-se alterado para um horário mais nobre, pois o programa dá bastante tarde e isso dificulta um pouco a nível de audiências.
E relativamente ao investimento de grandes nomes em Portugal como o Moche, que está inclusivamente a procurar criar campanhas especiais para os fãs de LoL tens algum comentário a fazer?
Acho que ao investir na liga o Moche vai acabar por fazer com que futuramente, se tudo correr bem, outras marcas queiram apostar e investir também, o que acaba por ser bom.
Acreditas que com o crescente investimento de patrocinadores e grandes marcas isso poderá incentivar a que mais jovens apostem nos eSports e ao surgimento de novos talentos?
Sim. Muita gente não joga porque dedica a maior parte do tempo ao trabalho e aos estudos, o que eu entendo. Se isto futuramente transitar para uma profissão, ou mesmo um part-time digamos, muita gente poderia colocar de parte certos projetos para se dedicarem a full-time a esta carreira. Até muitos jogadores que não têm independência, pois vivem com os pais ou outros familiares, poderiam finalmente focar-se no seu objetivo de competirem, que normalmente não conseguem, porque as famílias não os apoiam nesse sentido, por acharem que é uma perda de tempo e algo sem futuro.
Planeias voltar a competir na LPLOL no futuro?
Sim. Ainda me vão ver por aí se tudo correr bem.
Que caminho gostarias de ver os eSports em Portugal tomarem este ano?
Acho que estão num bom caminho. Os eSports estão a começar a apostar em competições com valores monetários razoáveis para a realidade em que nos encontramos. Ainda assim, penso que deveriam trazer equipas estrangeiras a Portugal, já que seria uma boa aposta para o respetivo reconhecimento do país. Noto também que as organizações estão a começar a compreender o valor dos jogadores e começam já a tratá-los devidamente com contratos.
Gostaria também que fosse dado algum foco à comunidade por parte das organizações. Ao concentrarem-se na competição, creio que acabam por se esquecer de quem os suportou e acho que deveriam apostar às vezes numa LAN Party, ou outro tipo de eventos, que motivassem a comunidade a interagir com os jogadores.
E relativamente à LPLOL o que gostarias de ver de novidades/ melhorias para este novo ano?
Relativamente à stream, acho que uma stream à “Twitch” seria muito melhor do que a que existiu no último ano. O chat merece poder interagir e não conseguiam ter essa oportunidade.
Talvez mais entrevistas a jogadores e treinadores, gosto bastante de ler e saber as diversas opiniões. Também seria interessante conhecer melhor o staff da LPLOL e fazerem-se jogos com o mesmo, como por exemplo staff contra jogadores, ou mesmo comunidade contra staff. Seria divertido e interessante.
Algo que queiras acrescentar ou referir de forma a concluirmos a entrevista?
Vou tentar dar um pouco de flame [risos]. Gostaria de voltar a jogar com certos jogadores, que já foram da minha equipa, ou que já são rivais antigos. Basicamente, era mesmo voltar a jogar para me divertir. Às vezes tenho certas saudades disso.
A LPLOL agradece ao Pechoshev pela sua disponibilidade como também pelo bom ambiente que este trás para as entrevistas e desejamos-lhe a maior sorte para os meses que se aproximam. Para ficarem a par de todas as novidades do Pecho podem seguir-lo Facebook e no Twitter.