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A Visão é Poder de Decisão!
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No decorrer do 2º Split da LPLOL 2016, o João “Mantorras” Conceição desempenhou dois papéis bastante diferentes dentro da equipa dos Electronik Generation. Inicialmente desempenhou o papel de treinador da equipa e no decorrer da 3ª jornada ocorreu a mudança para o papel de jogador, no role de suporte. Visto que foi a primeira vez que tal mudança se sucedeu na LPLOL, entrevistámos o mesmo para tentarmos compreender o porquê desta mudança repentina, como também quais as grandes diferenças e particularidades de cada um dos papéis desempenhados.

Em comparação com o primeiro Split os EGN tiveram uma performance aquém do esperado. Qual foi para ti o vosso maior obstáculo?
É verdade que não tivemos o Split ideal, visto que tivemos algumas alterações, sendo que estas foram realizadas com o intuito de tentar dar um pouco mais de estabilidade à equipa, porém isso não aconteceu. O maior obstáculo que tivemos foi sempre não termos um canal de comunicação suficientemente bom para conseguirmos ganhar jogos.

Como avalias o teu desempenho ao longo do Split, em primeiro lugar como treinador, e depois como jogador, visto que desempenhaste ambos os papéis.
Acho que são duas posições muito diferentes, mas o meu objetivo tanto como treinador, ou como jogador foi sempre tentar liderar a equipa para que esta pudesse conquistar os seus objetivos iniciais, mas infelizmente não conseguimos. Naturalmente que enquanto treinador é “mais fácil” lidar com jogadores e fazer a transição de treinador para jogador é diferente, porque já que temos alguma relação entre nós condensada. A minha performance, tanto como treinador e como jogador, não foi a melhor, pois se assim fosse teríamos conseguido os objetivos pretendidos e não foi isso que se verificou.

Consideras que a troca de posições na 3ª semana foi proveitosa para a performance da equipa, ou arrependes-te da mesma?
Acho que acima de tudo foi uma troca necessária para as condições que a equipa tinha, especialmente no momento pelo qual estávamos a passar, e chegámos todos ao consenso de que naquela altura era a melhor opção que tínhamos.

Começando pelo primeiro cargo que desempenhaste pelos EGN na liga. Na tua opinião, quais necessitam de ser as capacidades de um treinador?
Depende. Temos de verificar que não existe o treinador ideal, já que um treinador tem de saber lidar com as pessoas que supostamente está a treinar. Tem também que saber ouvir os seus jogadores e acima de tudo fazer parte da “família” que é a equipa. Não podem haver 2 entidades separadas, uma que é o treinador e outra que são os jogadores, já que uma equipa é composta por todos os elementos e como tal o treinador tem que conseguir fazer parte dessa mesma equipa. Naturalmente que há personalidades que gostam mais de mandar nos jogadores e há outras que gostam mais de ouvir, mas acho que idealmente um treinador tem que saber ouvir e tomar decisões fulcrais para a equipa. Se necessário, num caso extremo, e se o teu argumento for um ponto de vista válido e os teus jogadores tiverem 5 pontos de vista parecidos, ou idênticos entre si, mas se esse ponto de vista não for o mais correto, tens que ser capaz de provar que o teu argumento é mais forte que os deles, mas nunca colocando em dúvida o que eles querem dizer.

Face ao que referiste, consideras-te um bom ouvinte como treinador?
Acho que sim. Inicialmente nos EGN não tinha tanto essa postura de ouvinte, gostava mais de mandar, era muito de “vamos fazer isto porque sim e acabou”. No entanto, isso não demonstrou ter os melhores resultados e então acabei por mudar um pouco a abordagem que inicialmente tinha tomado e comecei a ouvir mais os meus jogadores.

Abordando agora a posição em que jogas, suporte, e face a esta por vezes ser menosprezada, a verdade é que há que trabalhar muito para dominar a mesma, correto? Quais as qualidades que para ti fazem de um jogador um bom suporte?
Essa pergunta é complicada, pois varia muito com a personalidade da pessoa, visto que há pessoas que têm um ego maior e há pessoas que são mais humildes. Acima de tudo o que faz um suporte, um bom suporte, é estar recetivo ao que é discutido por todos os elementos da equipa e ao que os mesmos precisam, de forma a conseguirem triunfar de acordo com a estratégia da mesma. Naturalmente que há muitas pessoas que consideram que o importante é ganhar a lane, porque isso torna-os superiores aos outros. Enquanto jogador já passei por muitas equipas, tive muitas experiências e pude verificar que essa não é a mentalidade mais correta.
Um bom suporte é aquele que pode não ter a melhor laning phase, mas que se tiver conhecimento de jogo e experiência suficientes, vai sempre saber dar a volta ao jogo. Esse é o trabalho de um suporte; ter uma visão de jogo completa. Muitos dizem que o trabalho de um suporte é o de fazer “babysitting” ao AD Carry, de forma a este poder carregar, isso é algo que tem que se fazer sim, mas como o nome indica, um suporte tem que “suportar” a equipa inteira. Por vezes o que as pessoas não entendem é que no role de suporte, e isto é uma das coisas que eu sempre disse, enquanto treinador, às minhas equipas: “Visão é poder de decisão!”. Por outras palavras, podes não ser o melhor na lane do mundo, mas se colocares as wards certas vais ter informação suficiente para conseguir prever minimamente o que é que o adversário quer fazer e como a tua equipa pode reagir a essa jogada.

Algum conselho para quem segue o teu trabalho, tanto para futuros treinadores, como para futuros jogadores?
Acima de tudo aconselho a que não cometam os mesmos erros de muitas pessoas de se preocuparem mais em ganhar aos outros, do que serem melhores eles próprios. Por experiência própria, não cometam esse erro. Não deixem o vosso ego subir-vos à cabeça, porque vocês conseguem sempre ser melhores do que são neste momento, basta quererem, esforçarem-se e acima de tudo preocuparem-se com vocês próprios. Derrotas vão acontecer seja contra A, seja contra B, seja contra quem for, tais como vitórias, e essas vitórias e derrotas não podem afetar-vos mentalmente o suficiente para o vosso ego subir, ou a vossa confiança descer, têm de se manter humildes com vocês próprios e focarem-se só em vocês e não a quem ganharam, ou com quem perderam.

Estavas à espera do triunfo dos K1ck? Há alguma equipa que neste Split te tenha surpreendido?
Não vou dizer “obviamente que sim”, mas eram os favoritos a ganhar. É verdade que os Alientech melhoraram ao longo do tempo, mas nos momentos decisivos da LPLOL certas equipas não conseguiram derrotar os K1ck e como tal, os K1ck foram os justos vencedores.
Nem por isso, nenhuma me surpreendeu. Posso referir que pela negativa, não estava à espera que os EGN ficassem abaixo do 4º lugar. Pela positiva, os Alientech solidificaram-se cada vez mais, mas de resto foi tudo esperado. Não posso dizer que os Doxa me surpreenderam, já que acho que o 4º lugar deles foi mais por mérito das outras equipas não terem conseguido realizar o que pretendiam e não pelo facto da equipa dos Doxa ser boa. O que quero dizer com isto é que o 2º Split este ano foi muito atribulado para várias equipas, o que fez com que os Doxa merecidamente, um pouco a contradizer-me, fossem aos Playoffs.

Para terminar, neste período de pausa os jogadores acabam por pensar sobre o seu futuro na competição. Quais são os teus planos para 2017? Estes englobam a continuidade na liga?
Quanto a planos para 2017, acho que a situação é igual para todos os jogadores que jogaram na LPLOL este ano. Enquanto os eSports se gerirem através de amizades, através de “eu dou-me bem com este e eu não gosto daquele” e acima de tudo através de picardias e facadas nas costas dos colegas, acho que muitos jogadores que poderiam ter qualidade, não digo que seja o meu caso, não vão conseguir triunfar nos eSports em Portugal. Penso  que o plano de todos os jogadores é melhorarem individualmente, tal como é o meu. Se conseguir arranjar alguma equipa para jogar, ainda bem, se não conseguir não fico chateado com isso. Refiro também que se existir alguma equipa que esteja à procura eu aceito analisar todas as propostas, sendo que para mim, quanto aos eSports em Portugal, para já não tenho assim grandes planos. Estou sim aberto a ofertas, mas refiro novamente que enquanto as equipas forem geridas por amizades, nunca vão ser criadas grandes equipas por Portugal.

A LPLOL agradece ao Mantorras o tempo disponibilizado para esta entrevista e deseja-lhe o melhor para o futuro, sejam quais forem os papéis que venha a desempenhar. Podem ficar a par de todas novidades do Mantorras seguindo-o no Twitter.


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